Era mais um dia de verão. O sol estava brilhando no céu,
algumas nuvens tímidas apareciam para dar oi a qualquer um que as olhassem e a
brisa com um aroma suave de capim abraçava todos que passavam ali no parque. Era
um dia comum. E como de costume, todos os verões, eu sempre visitava meus pais
no interior.
Meus pais eram simplesmente as melhores pessoas da vida. Minha
mãe uma mulher forte aposentada, sempre teve “perfeição” em sua vida. Um marido
perfeito, uma juventude perfeita, uma mulher perfeita, uma mãe perfeita e um
emprego perfeito. Meu pai teve uma infância complicada, perdeu o pai muito
jovem e teve que assumir o papel de homem da casa, para sustentar minha avó e
minha tia, mas logo as coisas se ajustaram depois que descobriram uma pequena
herança do meu avô. Lembro que no início da faculdade os dois se conheceram, se
tornaram amigos e começaram a namorar, depois de poucos anos se casaram e me
tiveram. Éramos a família feliz, fazíamos tudo juntos, até eu me mudar para a
cidade grande, onde tive que me habituar a pessoas diferentes, faculdade e um
novo emprego.
Então me levantei da grama, um tanto judiada por conta do
sol, peguei as chaves e dirigi por quatro horas até a casa dos meus pais. Confesso
que demorou mais do que eu gostaria, mas quando finalmente cheguei. Olhei pela
janela do meu carro e suspirei fechando os olhos. Era exatamente tudo igual ao verão
passado e uma enorme segurança tomou conta de mim.
- Enfim em casa – sussurrei para mim.
Desliguei o motor, que agradeceu o gesto, pulei para fora do
carro e fui pegar minhas malas. Caminhei até a porta da frente e bati três
vezes, minha mãe apareceu atrás da porta. “Como ela continua linda!” pensei.
- Anne! – minha mãe gritou e veio me abraçando.
- Também é muito bom ver a senhora, mãe.
- Venha, querida. Entre. – ela abriu a porta – João, olhe
quem chegou! – falou ela gritando pela casa.
Peguei minhas malas e entrei pela sala de estar, logo
encontrei um homem de meia idade, cabelos grisalhos e olhos caídos por conta da
idade. Era meu pai. Deixei as malas caírem e fui correndo em sua direção.
-Pai! – O abracei. – Como é bom estar em casa. – sussurrei em
seu ouvido.
- É bom ter você aqui, parceira. – ele sussurrou de volta.
- Anne, vou colocar suas malas no seu quarto.
- Eu faço isso mãe, não se preocupe.
- Querida, não é sempre que falo isso. Então me deixe.
Ela desapareceu pela casa, então voltei minha atenção ao meu
pai.
- Parceira, tenho uma coisa para te contar. – sua expressão
mudou.
- O que houve?
- Sua mãe foi diagnosticada com uma doença, os médicos ainda
não sabem o grau, mas dizem que é
preocupante.
- O que ela tem, pai?
- Ela está com início de Alzheimer e tem outra coisa que os
médicos estão tentando descobrir.
Meus sentidos pararam de funcionar. Todos eles. Minha mãe,
não. Ela era a mulher forte que eu me espelhava, para mim ela era quase uma
mulher maravilha. Por que ela?
- Anne! – meu pai tocou meu braço.
Apenas o olhei, deixando lágrimas caírem dos meus olhos e
brincaram na superfície quente do meu rosto.
- Anne, me escute! Ela não pode saber, as coisas estão difíceis
para ela. Tem hora que ela esquece se já comeu ou se já tomou banho.
- Pai! Minha mãe não.
- O que tem eu, Anne? – ela entrou na sala, sem aviso
nenhum.
Eu atravessei a sala, na mesma velocidade que entrei, e a
abracei com todas as forças que eu tinha.
- Eu te amo, mãe.
- Filha, o que está acontecendo? Eu também te amo.
- Nada – sorri entre as lagrimas. – Só estou feliz por estar
em casa.
- Venha, vamos comer – ela olhou ao redor, procurando por
algo.- Onde estão suas malas?
- Não importa, estou com fome. – olhei para meu pai, e respirei fundo.
Comi rapidamente, e subi correndo para meu quarto antigo.
Tudo estava lá, sentei em minha penteadeira, desfiz as tranças dos meus cabelos
e deixei mais lágrimas caírem. Era tão difícil receber uma notícia dessa.
Respirei fundo, tentei secar as lágrimas e peguei meu celular. Tinha uma
mensagem de Michael.
“ Oi Anne, como você está? Chegou bem?”
Sorri para o visor.
Michael era meu melhor amigo e parceiro de trabalho na
faculdade. Nós conhecemos logo no início,
quando recrutaram todos os calouros e
fizeram o famoso “trote”, Michael estava lá. Ele quem segurou minha mão na hora
mais horripilante do trote e desde então não paramos mais de conversar.
“Já estou na casa dos meus pais!”
Enviei de volta e voltei a encarar meu reflexo no espelho,
mas o celular vibrou mais uma vez.
“E como você está?”
“Sinceramente, não muito bem. Recebi uma noticia ruim.”
“ O que houve?”
“Minha mãe está com Alzheimer e os médicos podem descobrir
mais coisas erradas.”
Engoli o choro ao pensar na possibilidade de acontecer algo
com ela.
“Nossa! Anne.... Mas calma, vai ficar tudo bem com ela.”
“ Eu espero, Michael.”
“Vai sim, queria estar aí para te dar um abraço.”
“ Eu também, mas está tudo bem! Vou dormir, estou cansada.”
“Haha, tudo bem. Boa noite.”
Apenas desliguei o celular, deitei na cama e apaguei.
..... CONTINUA
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